sábado, 22 de dezembro de 2007

Fuga insana


…mas partis[te] interrompendo a noite de lua cheia, o cheiro da terra regressando à terra, o aroma de [ti] partindo rumo a sul e ao solo húmido onde despontam pequenos pontos verdes, resquícios de [ti] salpicados de olhares furtivos e fugazes.
Na tua página rosa as pétalas esmaecem e sucumbem à fuga insana. [Foges de ti talvez com a esperança fútil de renasceres dessa terra que engole cheiros, sepulta dores e homens, devolve vidas a bel-prazer e se multiplica nos pequeníssimos grãos quase negros furados de baixo para cima pelas inusitados pontos verdes a emprestarem à paisagem sensações erráticas de ilimite.]

Ou a fuga insana para os braços de.
Ou ainda o apertar dos braços em torno de um tronco perfeito – quase árvore – o peito interrompido por dois pontos acastanhados e duros por debaixo do decote generoso, arfando, ganhando vida própria, desejando o toque.
Agora importa recuperar da terra quase negra os cheiros que rouba a si mesma e aos outros, o aroma intenso de ti que foge rumo a sul e ao solo húmido.
O vestido – amarrotado – ganhou vida e as flores estampadas subtraem-se ao tecido pejando o chão - quase negro e quase puro - de pétalas multicolores, e [tu]… e tu voas [te] nesse vestido – amarrotado - de balão de ar quente rumo às duas luas em oposição circunspectamente exactas. No cerrar de ambas, o leito onde permanecemos deitados num frente-a-frente surpreendente e numa angulosidade de cento e oitenta graus. Impossível o toque. Só os olhos se penetram em desespero de causa.