quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Condensações


Ou o deslizar[es] etérea entre as azáleas e noites de camélias brilhando sob a luz difusa de uma lua oposta e envergonhada, redesenhando-se numa elíptica nada convencional, escondida por detrás de um leve nevoeiro.
Condensações.
Ou ainda o cigarro ardendo a desoras comprometido irremediavelmente com a noite estranhamente branca e límpida, ou o pão quente com manteiga na solidão da cozinha enorme e fria.
Sobram os ecos da [tua] voz en-can-ta-tó-ria escondidos no cinza aveludado da noite.
[Agora quase branca] na transposição do paralelo inexistente referenciado a vinte e três graus, onze minutos e trinta e oito segundos, talvez a Norte de latitude, e de longitude indecifrável. Como o som abafado dos [teus] lábios.


ADENDA



A Blue atribuiu-me o "Prémio amizade" que muito me honra. Aceito-o sem reservas porquanto vamos neste novo mundo da blogosfera estabelecendo empatias e verdadeiras amizades.
Passo-o a todos e todas os/as que visitam este humilde espaço.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Breves sobre a literatura


Apesar de um certo tom apocalíptico que paira em certos meios institucionais, a hipertextualização poderá vir a tornar-se um campo metodológico, tal como se tornou o próprio texto. E só aí, então, acontecerá a experimentação que a escrita constitui: indecibilidade do sentido e desafio às configurações inexploradas do heterogéneo. Enquanto dispositivo, a rede informática define-se por ausências de pontos nevrálgicos e nessa medida ela está muito próxima do texto-rizomático, ligando o heterogéneo, desierarquizando e deslinearizando, anonimizando e infinitizando o texto, operando conexões entre texto, imagem e sonoridade, permitindo a realização, na escrita, de técnicas como as da "enxertia", recontextualizando pedaços de textos, segundo a proposta derrideana; mas essa dimensão é tão-somente uma dimensão poética da própria escrita que se nos oferece ainda no campo ilimitado da exploração.
Do ponto de vista textual, quais são as contribuições que o hipertexto traz à literatura? O nascimento de uma “hipocultura?”
A focagem de uma tecnologia particular como o hipertexto permite apontar o teor das transformações da escrita e das suas incidências no literário. Como se sabe, o hipertexto não é, à partida, um dispositivo textual, como o são os procedimentos inter-textuais; digamos que a finalidade primeira do dispositivo hiper-textual é de natureza enciclopédica e não poético-literária. Com efeito, a passagem do texto impresso para o texto digital supõe uma sobrecodificação que tem por função estabelecer ligações – laços textuais – numa espécie de tratamento formal do texto, suportado por uma sobrecodificação e conjunto de regras que permitem a conexão entre os lugares/texto. Acrescente-se aos sistemas que suportam o hipertexto, a necessidade de uma cartografia dos textos, que muitas vezes corre em paralelo ao próprio texto, como carta de navegação e que, esta sim, será a arquitectura da narrativa, da autoria do seu autor/programador.

A liberdade situa-se ao nível do encadeamento de conexões, da actualização dessas mesmas conexões, dentro da virtualidade das possíveis. A programação que sustenta o texto torna-se uma visão antecipativa, uma pré-visão textual.
A literatura confundiu-se com o livro, e institucionalizou-se definitivamente com o romance, e a linearidade do texto impresso confunde-se de tal maneira com a sequencialidade narrativa que a finitude, a clausura do texto parecem óbvias.
O efeito de toda a narrativa é justamente o de fazer coincidir a causalidade com a sequencialidade tornando a temporalidade narrativa um factor de coesão textual. Organizando a sequencialidade temporal segundo um princípio de causalidade, as grandes narrativas criam um muthos – uma intriga – e um desenlace, de forma conferirem sentido ao mundo. Porém, fica a questão: se o mundo aparentemente carece de sentido, não será a literatura uma vítima desse sem-sentido? Se sim, porque não apostar definitivamente na perversão do conceito de livro, corrompendo as regras, que, em última análise, são castradoras da verdadeira liberdade criativa?


ADENDA:


A Ana do blog "morethanwords" resolveu, imerecidamente atribuir-me um prémio; registo o facto como uma gentileza e agradeço/a/lhe.
Não querendo quebrar a gentileza atribuo igualmente o prémio a todos e a todas os/as que vão passando por este humilde espaço.
Um grande bem-haja à Ana!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Crepúsculo


Ou as imergências pontiagudas – revolvida a terra – a desenharem ad eternum a tessitura antes plana do leito.
Percorres [me/te/nos] nas contracurvas da estrada negra pontilhada aqui e ali pela intermitência do traço fosforescente. Quase branco.
Sopra o gesto a destempo e recolhe-se a alma no inebriante retorno do verbo; e de. [Ti]
Estuprada, a terra lamenta-se; absorve todas as lágrimas e suores de todos os homens que definham de saudade, e lépidas, correm os sulcos rasgados. Sangue de sangue. Exangue.
Ou as violetas da cozinha – levadas em tabuleiro – adocicando o dia a nascer. Ainda crepúsculo. Subtil. Como as palavras que não se dizem, os silêncios esmagados em pares de lábios e duas línguas que se cruzam. Pela manhã. Ainda crepúsculo.

Repositorium (Glacé)

O relógio de parede marca dez e trinta mas não se sabe de que dia, que os ponteiros pararam há muito. Tempo suspenso na paragem da pequena e complexa engrenagem que faz rodar o tempo e completar os ciclos. Aprisionado naqueles dois ponteiros parados, carcereiros e prisioneiros desse tempo que haveriam de contar com voltas ininterruptas, inexorável, decompondo o ínfimo equilíbrio da natureza e reduzindo-o a nada.
Post it: fazer um bolo. Desta vez certificar-me de que as migalhas não ficam aprisionadas na cobertura. Usar o glacé apenas e só após traçar as letras com um palito de maneira a ficarem centradas e deixar as rosetas para o fim.
A impossibilidade de não pensar nesse outro futuro inexistente porque num determinado momento imperou o livre-arbítrio e a escolha – fatal? – foi outra deixará sempre a marca da dúvida: terá sido a felicidade recusada?
Post it: não esquecer de mencionar que Virgínia Wolf meteu uma pedra na algibeira do casaco, entrou no rio e afogou-se.
O halo impreciso de [ti] contém um espasmo quase doloroso, algo mais forte do que a excitação. Pânico. Ocorreu [me] agora a palavra desenhada na cobertura do bolo com um palito e depois coberta com o glacé terá de ser “pânico”, justificando o uso do palito mirrado pelo calor do forno e passado por cima dos pequenos sulcos traçados com o miserável e execrável palito. A cobertura será perfeita.
Não era para saber: passei os dedos repletos de glacé pelos lábios numa atitude definitivamente infantil.
O relógio de parede continua a marcar dez e trinta, esquecido do tempo e dele mesmo. E cheira a bolo queimado e a manhã solarenga; capta-se o risco deixado por um qualquer avião no céu e que se destaca das pequenas nuvens pela intransigência da recta e rumo certo. E incerto.
Por exemplo: se invadisse a [tua] cama no cair da noite rodear [te] – ia o corpo num amplexo formidável, olharia o relógio de parede que continua a marcar dez e trinta e ficaria a certeza de que o tempo havia efectivamente parado.

Sei-te E., esperando [me] desnudada de ti e tempo parado nos ponteiros que teimam em marcar dez e trinta.

Repositorium (Vieira da Silva)


Os quadros de Vieira da Silva oferecem-nos uma visão poética – a sua – do espaço urbano ao expor a complexidade da estrutura arquitectónica, fornecendo-lhe ao mesmo tempo uma dimensão psicológica; deambulando entre a abstracção e o idealismo, empresta-lhe a percepção do que visionou, devolvendo essas percepções sob a forma de múltiplas interpretações, sugerindo mil espaços diferentes, à medida de cada observador.
Contrariando a bidimensionalidade de Mondrian ou de Malevich, a pintura de Vieira da Silva acrescenta-lhe a profundidade como elemento inovador. É uma pintura labiríntica, representada regra-geral pela fluidez das linhas geométricas, aliadas à ideia de transparência, sublinhadas por uma forte luminosidade.
Pintura vertiginosa, perpendicular, a provocar muitas vezes a sensação de espiralidade.
Uma obra a revisitar. E a reter.

Repositorium (O Manifesto de Malevich)


A “retirada” estratégica dos McCann assemelha-se em tudo ao Manifesto Suprematista de Malevich a que nem sequer falta a retórica inflamada e a automistificação; em jeito de contraponto, o modesto panfleto preparado por Vladimir Tatlin – leia-se sistema judicial português – repleto de autocomiseração, e porque não admiti-lo, carregado de um perturbador sentimento de frustração e de imagens em contra-relevo a perpassarem nas televisões de todo o mundo ocidental nada dignificantes para a imagem de Portugal.
O contraste é óbvio: enquanto que a fuga em directo – e tratamento VIP – foi claramente marcada pela exuberância, bem ao jeito de Malevich, e ainda pelo carisma e pelo espírito profundamente místico do casal em fuga, os portugueses assistiram incrédulos e impotentes ao circo mediático montado em torno da “estratégica” retirada; poder-se-á afirmar que existe algo de Tatliano nos sentimentos de quem investiga o caso do desaparecimento da pequena Maddie; sentimentos que resultam do experimentalismo filosófico, da permissividade da Lei, mas sobretudo da clara ingerência – ininteligível para todos nós – de uma série de órgãos que regulam e asfixiam o trabalho da Polícia Judiciária. Não é aceitável que o Ministério Público, a Tutela – e mais grave ainda –, que interesses manifestamente políticos sublinhados por uma claríssima ingerência – permitida, diga-se – dos ingleses no processo obviasse a um desfecho destes. Estamos ante o conceito do construtivismo abstracto defendido por Tatlin que nos faz regredir ao início do século XX.

É interessante observarmos a analogia da motivação conceptual da vertente modernista de Tatlin – em 1914/1915 – e a fuga em directo do casal McCann: nos dois casos foram usados fragmentos do mundo real – pedaços de jornais, papel de parede granulado e tosco, colheres, câmaras de televisão e demais objectos e conceitos do quotidiano para complementarem a tela inundada de pinceladas com motivações abstractas, muitas vezes incompreensíveis, a pedirem uma imaginação fertilíssima para que reinterpretemos o tema da composição. É justamente nesta reinterpretação que reside o perigo de podermos pensar que a justiça tem pratos diferentes para delitos iguais e que a aplicação da Lei é directamente proporcional à conta bancária de cada um e/ou ao estatuto social a que se pertence.
A ser verdadeiro este paradigma, estamos a cair na metodologia criativa – que na arte faz sentido, mas que se transportado para a justiça é claramente um caminho perigoso – de Friedrich Vordemberg-Gildewart, que não atribuía títulos às suas obras, numerando-as apenas de forma indiscriminada, mas com a ideia sempre presente de que cada uma delas constituía uma rubrica de um programa potencialmente interminável, resumindo-a afinal a uma forma de expor um ou muitos pontos de vista. São claramente movimentos diagonais a que se acrescentam elementos de relevo numa tentativa despropositada de dar forma a uma concepção puramente abstracta. A Justiça e sobretudo a investigação não se podem reger por estes parâmetros. Porque lhes falta equidade, objectividade, clarividência e se constituem eles mesmos numa infinidade de paradigmas.

Os portugueses têm sido sovados, maltratados, humilhados pelos discursos racistas da imprensa inglesa, o trabalho da polícia condicionado e a justiça posta em causa; ao permitir que o casal McCann – principais suspeitos do desaparecimento da filha, é preciso não o esquecer – a justiça portuguesa perdeu uma ocasião única de repor alguma verdade em todo este processo.
Não acuso o casal de ter cometido o crime. Não posso fazê-lo porque não o sei. Mas sei que em circunstâncias idênticas outras pessoas foram privadas da sua liberdade num ápice.

Prevalece claramente o Manifesto de Malevich em toda esta história de contornos duvidosos.

Repositorium (Errar humanum est)


A proliferação de câmaras de vídeovigilância um pouco por todo o lado levanta questões de vária ordem, sobretudo no que diz respeito à nossa privacidade. Até que ponto é aceitável o uso indiscriminado das mesmas, ainda que com a desculpa da nossa segurança?
Sê-lo-á de facto? O 11 de Setembro não terá sido a desculpa porque todos os políticos esperavam para implementarem medidas que visam tão-somente o controlo das populações?
Se às câmaras de vigilância somarmos o levantamento do sigilo bancário, mais o projecto do governo que obriga as operadoras a guardarem os registos das chamadas telefónicas, e se a estas adicionarmos a violação pura e simples das caixas de correio electrónicas e as escutas telefónicas arbitrárias ao sabor das vontades policiais, é lícito formular a pergunta: onde fica a nossa privacidade?
Quem garante o tratamento destas informações? Que uso lhes é dado? Como consegue um estado justificar perante os cidadãos medidas tão radicais que atiram em definitivo a nossa privacidade no lixo?
Pior: como compactuamos com tudo isto, em lugar de lançar gritos de alerta e de nos opormos frontal e eficazmente?
A democracia não pressupõe a perda de privacidade; ao invés, esta é uma das bandeiras de qualquer democracia.
Como se tudo isto não bastasse, vem aí o chip subcutâneo, verdadeiro espião debaixo das nossas peles.
O uso de implantes de chips RFID (Radio-Frequency IDentification) usados em animais começa agora a ser generalizado em seres humanos. Uma experiência conduzida pelo professor britânico Kevin Warwick, que implantou um chip no seu próprio braço em 1998, foi o primeiro sinal de alarme que olimpicamente ignorámos. Seguiu-se a empresa Applied Digital Solutions que propôs os seus chips "formato único para debaixo da pele" como uma solução para prevenir a fraude, restringir o acesso a computadores, banco de dados de medicamentos, iniciativas anti-sequestro, entre outros. Uma casa nocturna (Baja Beach Club) em Barcelona, na Espanha, tem incentivado com êxito o uso de chips implantados nalguns dos seus frequentadores VIP.
Enquanto alguns especialistas em segurança lançam alertas contra o uso do RDIF para autenticação de pessoas alegando que o roubo de identidade é um risco real, as grandes empresas do sector, com a complacência e a anuência dos governos – que vêm nesta área uma forte possibilidade de controlar os cidadãos – deitam mãos à obra de maneira a conseguirem o chip perfeito e barato de forma a que o seu uso possa ser massificado.
Apesar de todos os sinais, impera um verdadeiro muro de silêncio por parte do cidadão comum. Qual o preço a pagar pela segurança? Reformulo: a insegurança justifica de alguma forma atitudes invasivas?
É mais do que claro que a segurança não passa de um bode expiatório a justificar o uso indiscriminado da “tecnologia do controle” que teremos de rejeitar. A hipótese do alheamento não pode ser opção.

Repositorium (A revolução de Chávez)


Resolvi esboçar um pequeno estudo sobre a revolução em curso na Venezuela dirigida por Chávez.
Sugiro a leitura de um livro imprescindível para o entendimento desta figura controversa, escrito por Marta Harnecker, psicóloga, escritora e jornalista chilena, cujo título é, “Hugo Chávez, um homem, um povo”.
Não é possível falar da Venezuela sem dar atenção especial ao papel do petróleo na economia deste país. Se antes da eleição de Chávez o petróleo inibia o desenvolvimento de outras actividades produtivas, com Chávez verifica-se uma mudança de rota, ao investir uma parte significativa do excedente gerado pelo petróleo na área social.
Chávez está a transformar o petróleo numa riqueza pública. Como seria de esperar, as elites económicas opõem-se como o provam a tentativa de golpe em Abril de 2002 e a constante instabilidade levada às ruas com o apoio dos Estados Unidos; trata-se claramente de uma tentativa desesperada de reeditar o Chile de Pinochet de forma a assegurar que a maior riqueza dos venezuelanos será espoliada em favor dos grandes grupos económicos apátridas, em detrimento dos programas sociais que estão a ser implementados na defesa dos mais fracos e oprimidos.


Quem é Hugo Chávez

Hugo Chávez Frías nasceu em Sabaneta, Edo, Barinas, no dia 28 de Julho de 1954. Filho de Hugo dos Reyes Chávez e Elena
Frías de Chávez (ambos professores).
Realiza os estudos superiores na Academia Militar da Venezuela, de onde sai, com o grau de Subtenente no dia 5 de Julho de 1975. Porém, a sua formação académica não se fica por aqui, e é igualmente formado em Ciências e Artes Militares. Levou a cabo os seguintes cursos militares: curso Básico de Comunicação, Escola de Comunicação e Electrónica das forças Armadas, no ano de 1975; ocupou o terceiro lugar entre 25 alunos. Curso de Blindados do Exército, no ano de 1979; primeiro lugar entre 25 alunos. Curso Avançado de Blindados, em 1983; primeiro lugar entre 32 alunos. Curso de Comando e Estado-Maior, Escola Superior do Exército, em 1991-92. Também participou do Curso Internacional de Guerras Políticas, na Guatemala, 1988. Mestre em Ciências Políticas realizado na Universidade Simon Bolívar, nos anos de 1989-90.
É autor de variados contos e poesias. "Voltem Caras", "Maurício", "O Génio e o Centauro" (obra teatral que ganhou o terceiro prémio de Teatro Histórico Nacional) em Cañafístola, 1987.
É autor de numerosas obras de artes plásticas, como "Sombra de Guerra no Golfo" (1980) No dia 17 de Dezembro de 1982, baixo a sombra do Samán de Güere, capa o Movimento Bolivariano Revolucionário (MBR-200). É co-autor do Projecto de Governo de Transição para o dia 4 de Fevereiro (1991). Autor do Anteprojecto Nacional Simon Bolívar (1991).
Comandante da Operação Militar Ezequiel Zamora, Rebelião Militar do 4 de Fevereiro (1992). Co-autor da proposta "Como sair do Labirinto", feito na Prisão de Yare (1992). Fundador do Movimento V República.
Em Dezembro de 1998, Hugo Chávez torna-se, num acto democrático, presidente da República e em Fevereiro de 1999 assume a primeira Magistratura e promete uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição. Em Dezembro desse mesmo ano (1999) o povo venezuelano, chamado a pronunciar-se em referendo, decide-se pela aprovação da nova Constituição Bolivariana da Venezuela, por larga maioria.
Sublinhe-se o facto normalmente “esquecido” de Chávez ter chegado à presidência através de actos eleitorais que os observadores internacionais classificaram como “legítimos”.
Hugo Chávez iniciou já a campanha pelo "sim" no referendo sobre a reforma constitucional que visa instituir o "socialismo bolivariano”.
O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) é constituído por 21 formações que apoiaram a reeleição de Chávez.
A resistência do Partido Comunista da Venezuela (PCV) – porque não me admiro? -, confirma a tendência quase doentia que os Partidos comunistas têm por aquilo a que vulgarmente designam por “aventureirismo”, mas que apenas reflecte o medo do desaparecimento ante a demonstração inequívoca de apoio da grande maioria do povo Venezuelano ao regime de Chávez.
Lá como cá, o Partido Comunista trava as revoluções em lugar de as executar.


Breve historial da Venezuela

A Venezuela foi o primeiro local do Continente Americano pisado pelos descobridores espanhóis, uma vez que, nas viagens anteriores, se tinham ficado pelas Ilhas das Caraíbas, tais como Santo Domingo e Porto Rico.
A partir daí começou a época mais obscura da Espanha colonial, devido à radicalidade com que a Igreja conduziu a colonização, querendo evangelizar todos os aborígenes à força e convertê-los em cristãos, um objectivo que foi acompanhado pelo saque em busca de jóias, pérolas ou qualquer outra coisa que pudesse significar riqueza. Foram dois séculos de derramamento de sangue devido à resistência que os indígenas ofereceram à intolerância da Igreja Católica e à ocupação espanhola.
A Venezuela anuncia a sua independência em 1810, sem que Fernando VII de Espanha pudesse fazer nada para a impedir, mas esta só é reconhecida pela comunidade internacional em 1845, mercê das pressões espanholas e do apoio das outras potências coloniais.
Simón Bolívar, que após derrotas e vitórias, consegue entrar em Caracas, triunfante, em Agosto de 1813 institui aquilo que agora Chávez tenta reeditar: uma Nova República na Venezuela.

Hugo Chavez acelera reforma agrária

O plano de Chavez para distribuir terra entre os camponeses pobres prevê a nacionalização de grandes ranchos subutilizados sem compensação, pois de acordo com ele essas áreas produtivas devem ser utilizadas para o bem da comunidade.

As propostas de reforma constitucional e de estatização dos sectores de energia e telecomunicações do presidente venezuelano tendem a democratizar o poder naquele país.
Durante o discurso de posse do seu terceiro mandato como presidente da Venezuela, Hugo Chávez afirmou que iria rever a divisão político-territorial do país. Ao mesmo tempo, Chávez pretende igualmente mudar a estrutura do governo, criando comissões temáticas para debater, junto com movimentos sociais, questões sobre terra e água, entre outras.

Nesse sentido, a reforma constitucional proporcionará maior espaço às organizações populares nos comités de cooperativas, de terras e de água, democratizando a participação da população no governo, enquanto que a blindagem da economia interna irá dar prioridade ao desenvolvimento do país sem pedir dinheiro ao Fundo Monetário Internacional, o FMI.

A "blindagem" da economia venezuelana, será garantida em boa parte pela estatização de sectores essenciais, como o da energia eléctrica e das telecomunicações. A nacionalização de empresas como a Companhia Autónoma Nacional de Telefonia da Venezuela (CANTV) e a Empresa de Electricidade de Caracas são disso exemplo; o controle estatal sobre projectos petrolíferos na região da bacia do rio Orinoco, são igualmente uma forma de devolver a Venezuela aos venezuelanos, sobretudo aos mais desfavorecidos.

Um Panorama das missões

Diversas Missões foram criadas pelo Governo de Chávez. O impacto positivo destes “planos sociais” é amplamente positivo para amplos sectores populares e para uma boa parte da classe média. O programa de Saúde Barrio Adentro é um dos mais famosos. Nesse plano, os médicos, cubanos na sua grande maioria, realizam consultas diárias e permanecem em estado de prontidão durante as 24 horas do dia nas regiões mais pobres do país. Na área de educação, o plano abrange três frentes: a Missão Robinson, que pretende alfabetizar mais de 1,5 milhões de pessoas; a Missão Ribas, que objectiva o estímulo ao reingresso no subsistema do segundo grau do ensino a pessoas que ainda não concluíram os seus estudos; e, por fim, a Missão Sucre, dirigida à educação superior, cuja realização mais concreta foi a Universidade Bolivariana, que se propõe incorporar quinhentos mil estudantes sem vaga no subsistema de educação superior público e privado.
Entre estas missões merece destaque a integração entre esta iniciativa e o programa de preparação para a economia solidária e a formação de cooperativas nas quais são aproveitados recursos humanos previamente preparados pelas “missões” educativas e, em seguida, orientados para o desenvolvimento local.

As missões Mercal e Vuelvan Caras: estímulo ao surgimento em massa de cooperativas

Além da educação para o desenvolvimento local – citada acima – e a missão para a saúde, há uma outra missão que ganhou o nome de Mercal. Esta missão procura assegurar o acesso da população a uma alimentação sadia. Isso dá-se através de uma ampla rede de lojas que atendem milhares de consumidores de baixo rendimento, fornecendo-lhe frutas cultivadas em hortas comunitárias. A preocupação com a população desempregada e os jovens saídos das escolas resultou também na formação de cooperativas de costura, de fabricação de calçados e de hortas para abastecer com verduras e frutas as escolas e creches.
Apesar do cooperativismo fazer parte de várias missões, a que está mais directamente incumbida em promovê-lo chama-se Vuelvan Caras. Cerca de um milhão de pessoas beneficia com o processo de capacitação profissional sendo inseridos numa actividade produtiva. A missão começou, assim, com a capacitação em diferentes ofícios o que exigiu do governo uma contratação massiva de instrutores. Das 6.840 cooperativas formadas neste processo, quase 6 mil receberam financiamento do governo, a maioria delas funcionando no campo.

A missão foi criada em Setembro de 2005. Um ano depois de criada, a MVC contabilizava os seguintes números: 147 Núcleos de Desenvolvimento Endógeno em funcionamento; 853 em fase de planificação; 61.965 pessoas incorporadas nestes núcleos; mais de 257 mil pessoas recebendo aptidões.
Se é verdade, como aponta o lema do Movimento Nacional de Empresas Recuperadas, que toda a empresa que encerra deve ser ocupada e colocada a produzir, o que fazem os trabalhadores quando as fábricas fecham? Não há respostas por parte dos mesmos num contexto onde poucas fábricas fecham? E o que pode fazer o Governo num contexto onde as fábricas não fecham?

Chávez tem a resposta: transformar os encerramentos em fábricas co-gestionadas. Em Janeiro de 2005, Chávez expropriou a antiga fábrica de papel e celulose Venepal. Da falência desta empresa, da pressão dos trabalhadores e da decisão do Estado de recuperá-la sob co-gestão por motivos de interesse público, surgiu a Invepal. Trata-se de uma empresa que se tornou estatal, onde seus trabalhadores, que agora integram a Cooperativa de Industria y Papel (Covinpa), administrarão as acções, junto com os Ministérios do Trabalho, Economia Popular e Finanças (51% do capital provém do Estado e 41% da cooperativa dos trabalhadores).
Chávez também tem uma política para o actual contexto, onde poucas fábricas fecham. Ele anunciou – em Julho de 2005 – a intenção de expropriar mais 700 fábricas que estão improdutivas ou trabalhando muito abaixo de sua capacidade. Essa política faz parte de uma resposta ao boicote de alguns empresários que resolveram paralisar a produção.
Na filosofia de Chávez está implícita um diálogo maior com os trabalhadores que buscam a estatización bajo control obrero.
Na Venezuela, é certo que a criação de cooperativas de trabalhadores é uma política central e estratégica do processo de desenvolvimento endógeno. Não só devido à larga escala e ao grau de abrangência da política, mas também pelo papel atribuído ao cooperativismo numa política maior, que é a de desenvolvimento endógeno.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Kosovo, as contradições


Para os sérvios, o Kosovo tem origem no núcleo territorial controlado a partir do século XII pela dinastia principesca dos Nemanjic. O filho mais novo do fundador da dinastia, monge do monte Atos com o nome de Sava, estabeleceu a autonomia da Igreja sérvia, reconhecida em 1219. O Kosovo encontrava-se também no centro de gravidade do Império do czar Dusan, proclamado em 1346. Alguns dos maiores mosteiros sérvios ortodoxos encontram-se no Kosovo, tais como o de Visoki Decani ou o de Gracanica. E na cidade de Pec está instalada a sede da Igreja sérvia ortodoxa. O patriarca de Pec simboliza a autocefalia – ou seja, a independência eclesiástica – da ortodoxia sérvia. O patriarca, mesmo que resida em Belgrado, continua a arvorar o título de «patriarca de Pec», sendo-lhe simbolicamente atribuídos no Kosovo o seu cargo e respectivas funções.

Com a batalha de Junho de 1389, o Kosovo simboliza também o desaparecimento político da nação sérvia. Lembram os historiadores que o resultado dessa batalha não foi decisivo, porque a vitória turca de Marica, em 1371, já tinha aberto as portas dos Balcãs aos conquistadores otomanos. Por outro lado, em 1389 o príncipe sérvio Lazar Hrebeljanovic comandava um exército onde se encontravam destacamentos de todos os povos cristãos dos Balcãs, como os bósnios do rei Tvrtko, não tendo pois o exército do príncipe Lazar um cunho “nacional” sérvio, termo anacrónico na Idade Média.

A batalha do Campo dos Melros (Kosovo Polje) passou rapidamente a ocupar um lugar muito importante no imaginário nacional sérvio, com canções populares celebrando as proezas dos heróis dessa batalha, segundo o modelo das canções de gesta da Idade Média ocidental.

Mas a passagem desta memória religiosa e popular da batalha à afirmação duma reivindicação política sérvia do Kosovo só se deu no século XIX. A partir dos anos de 1850, o principado sérvio, autónomo desde 1830, procurou estender-se para o sul, orientação estratégica definida pelo ministro Ilija Garasanin, o “Bismarck sérvio”, no seu famoso Esboço (Nacertanje). Com efeito, o império dos Habsburgos bloqueava no Norte e no Oeste as perspectivas de expansão da Sérvia, ao passo que nos territórios ainda sob domínio turco lavravam repetidas revoltas e contestações nacionais cada vez mais virulentas.
O nacionalismo sérvio do século XIX irá pois apoiar-se na tradição literária e religiosa relativa ao Kosovo para justificar as suas reivindicações políticas, sendo assim o mito transformado em reivindicação territorial pelo nacionalismo moderno. O quinto centenário da batalha de Kosovo Polje, comemorado em 1889, foi a ocasião escolhida para afirmar este novo estatuto político do Kosovo. Ao passo que o mito era até então celebrado pela Igreja ortodoxa, nomeadamente devido à opção mística do príncipe Lazar, na sua reescrita esta limitou-se a ter um papel marginal. É certo que a Igreja sérvia, privada do seu centro de Pec desde a supressão do patriarca em 1776, e tendo-se por isso retirado para Sremski Karlovci, na Voivodina, então território austríaco, esteve pouco implicada na emergência moderna do Estado sérvio.

História recente

A poucos quilómetros de Pristina, capital do Kosovo, encontram-se frente a frente dois memoriais. Uma torre celebra a batalha de Kosovo Polje, perdida, face ao invasor turco, no dia 28 de Junho de 1389 por uma coligação de povos cristãos dos Balcãs, chefiada pelo príncipe sérvio Lazar Hrebeljanovic. Foi no local onde ocorreu essa batalha, no lugar chamado Gazimestan, que Slobodan Milosevic pronunciou, a 28 de Junho de 1989, o seu discurso de reabilitação do nacionalismo sérvio, assinando ipso facto a morte da Jugoslávia perante quase um milhão de sérvios.



Dez anos mais tarde, a 28 de Junho de 1999, monsenhor Pavle, patriarca da Igreja ortodoxa sérvia, celebrou neste mesmo lugar, perante um punhado de fiéis, o apelo (ofício dos defuntos) em memória do príncipe Lazar, sob apertada protecção dos militares da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que tinham acabado de penetrar no Kosovo.

Perto dali ergue-se a turbe, túmulo do sultão Murad, o outro protagonista da batalha de 1389. Este belo edifício, que um jardinzinho rodeia, é o tradicional lugar de devoção dos muçulmanos do Kosovo. Desde há séculos, a função de turbetar (guarda do túmulo) é transmitida de pai para filho na mesma família, de origem turca. O último turbetar faleceu em 2001, sendo agora a sua viúva que assume esse cargo. Esta mulher é bósnia, eslava muçulmana do Sandjak de Novi Pazar. Apesar de ter contraído matrimónio com um turco do Kosovo, nunca aprendeu a língua albanesa e não esconde a animosidade que tem pelos “shiptari”, nome que os sérvios e outros eslavos do Sul dão, com desprezo, aos albaneses. No interior da turbe, uma árvore genealógica expõe a linhagem dos sultões osmanlitas. A turbe é pois uma espécie de monumento relíquia de um Estado há muito desaparecido, o Império Otomano.
Seis anos depois dos bombardeamentos executados pela OTAN na Primavera de 1999, o Kosovo continua a ser o principal centro de tensões dos Balcãs. Os bloqueios políticos remetem para diferentes interpretações da sua história, situando-se o Kosovo na encruzilhada das memórias antagonistas dos Balcãs, a memória sérvia e a memória albanesa, mas também as de todos os impérios e de todos os povos que ali se cruzaram.

A unificação de Tito



Em princípio, as posições de uns e outros são inconciliáveis. Os albaneses só querem ouvir falar de independência, que para os sérvios é uma perspectiva inaceitável. Com efeito, o lugar que o Kosovo ocupa, desde há mais de um século, nos imaginários nacionais destes dois povos, é em grande medida sobredimensionado.

O movimento plurinacional dos partidários comunistas do marechal Tito só tardiamente se desenvolveu no Kosovo; na Segunda Guerra Mundial foram sobretudo os tchetniks (ultranacionalistas sérvios) que se opuseram às forças de ocupação e aos seus colaboradores albaneses.
Por conseguinte, os períodos de dominação de um povo pelo outro alternam-se: predominância sérvia de 1918 a 1941, predominância albanesa de 1941 a 1945, predominância sérvia nos primeiros tempos da Jugoslávia socialista, visto o ministro do Interior, o sérvio Aleksandar Rankovic, ter executado uma política centralizadora muito suspeitosa para com qualquer manifestação susceptível de apoiar o reemergir do nacionalismo albanês. A queda de Rankovic (1965), e sobretudo a nova Constituição jugoslava descentralizadora de 1974 voltaram a dar vantagem aos albaneses. Entre 1974 e 1981, o Kosovo passou por uma “idade de ouro”, sob a direcção de quadros comunistas locais, na sua grande maioria albaneses.

Reivindicações suportadas pelo imperialismo americano e pela submissão europeia

No entanto, o desenvolvimento das reivindicações nacionais albanesas acabou rapidamente por pôr em causa esse frágil equilíbrio. As manifestações albanesas de 1981, violentamente reprimidas, visavam elevar o Kosovo ao nível de república federada da Jugoslávia, e as duas orientações políticas desenvolveram-se a partir desse momento fundador. Ao mesmo tempo que os professores da Universidade de Pristina, criada em 1968 e centro do renascimento nacional, afirmavam a identidade específica do Kosovo, os seus alunos aderiam aos movimentos clandestinos que preconizavam a “Grande Albânia”, controlados pela Albânia estalinista de Enver Hoxha. Na década de 1990, destes movimentos, muito implantados na diáspora albanesa da Europa Ocidental, nasceu o UCK.
Da supressão da autonomia, em 1989, ao ano de 1999, o regime sérvio de Slobodan Milosevic fez pesar sobre o Kosovo uma mão de ferro. Mas a estratégia por que optaram os dirigentes albaneses, congregados na Liga Democrática do Kosovo (LDK) de Ibrahim Rugova, a “resistência não violenta passiva”, teve como resultado a edificação de uma contra­sociedade, sem dúvida respondendo à violência de Belgrado, mas que também comprometeu a possibilidade duma futura reconciliação.
Essa criação duma contra-sociedade albanesa foi acompanhada por uma intensa propaganda no estrangeiro, visando comparar o estatuto do Kosovo com uma situação colonial, em que a população “indígena” (albanesa) teria sido oprimida por um poder estrangeiro. Nesta perspectiva, não faltaram as abordagens demográficas, explicando­se correntemente que mais de 90 por cento dos habitantes do Kosovo eram albaneses, quando os números do último recenseamento efectuado (1981) apenas indicavam 81 por cento.
Os historiadores sérvios teorizaram os direitos específicos do seu povo opondo os direitos “históricos” da Sérvia aos “direitos demográficos” dos albaneses, nitidamente maioritários, pelo menos desde meados do século XX. Entre os sérvios e entre os albaneses, os manuais escolares contribuem grandemente para reproduzir e fortificar estas contraditórias interpretações do passado. Nos grandes reveses do protectorado internacional do Kosovo dever­se-á seguramente incluir a ausência de qualquer reforma efectiva dos conteúdos dos programas escolares, bem como de qualquer iniciativa visando levar as diversas comunidades a ultrapassar as suas projecções identitárias antagonistas.

A ingerência Ocidental



O objectivo oficial dos bombardeamentos efectuados pela OTAN na Primavera de 1999 consistiu em fazer cessar as violências do exército e da polícia sérvios, as quais por sua vez respondiam ao desenvolvimento da guerrilha albanesa. Mas os albaneses viram na acção da Aliança Atlântica um apoio à sua reivindicação de independência e receberam os soldados da OTAN como “libertadores”; estes últimos nada fizeram para impedir a “correspondente limpeza étnica” de que foram vítimas os sérvios e as outras comunidades não albanesas. Na realidade, as forças ocidentais utilizaram as reivindicações albanesas para justificar os seus próprios objectivos, que consistiam, entre outras coisas, em enfraquecer o regime sérvio de Milosevic.
Terão agora os sérvios “perdido” o Kosovo? No caso de a comunidade internacional se empenhar com vista a um reconhecimento da independência do Kosovo, será muito provável um novo êxodo dos cerca de 100.000 sérvios que continuam a viver naquilo a que não podemos deixar de chamar um “protectorado internacional”.
Optando por privilegiar e, por isso mesmo, por legitimar um discurso nacional, a comunidade internacional tem uma responsabilidade esmagadora, na medida em que ela própria desprezou os valores que proclama, os de uma sociedade aberta e tolerante. Ao favorecer a emergência de um Kosovo exclusivamente albanês, reconhecendo formalmente a sua independência, a comunidade internacional colocou-­se ainda por cima numa terrível armadilha, que bem pode estender-se a todas as populações do Kosovo e arrastar a região para uma nova espiral de violência.
Torna-se, pois evidente, que a “independência” do Kosovo foi um claro roubo da Europa dos 27, auxiliando e alimentando os sonhos de um louco que por ora, ainda governa os EUA (Estados Unidos da América); é ainda mais evidente que será a EU (União Europeia) a financiar o “novo estado”, um estado tão inviável quanto o de Timor-leste que, como agora podemos verificar, é um foco de instabilidade e de lutas por um poder inexistente, homens (?) que fazem os jogos das potências que querem a todo o custo o petróleo, figuras submissas e abjectas – leia-se Xanana Gusmão e Ramos-Horta –, fantoches nas mãos de suseranos, aplicando leis que servem apenas e só os ocupantes e os vis servidores.



A “independência” do Kosovo, a ser aceite pelo mundo ocidental, abre um perigoso precedente deixando no ar uma série de perguntas: se o Kosovo pode ser “independente”, porque não aplicar o mesmo estatuto ao norte de Itália, ou ao país basco, ou aos independentistas catalães?
Não seria moralmente justo? – Lembro que estes têm de facto razões culturais e históricas para aspirarem à independência. -

Ler as opiniões do Samuel,e do Pasquim do Povo sobre este assunto.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

(Im)permanência


Inscrevo [/me/te] no rasar do solo e no cheiro a terra revolta e vísceras espraiadas ao sol radioso de um dia inscrito num sorriso – invisível – matinal perfurado o éter e percorrida a distância.
Ou percorro [te] as coxas bem feitas e quentes a implorarem o toque, a pele acetinada e macia eriçada de desejo implícito, os olhos em contraluz iluminando crepúsculos e adivinhando o voo rasante das aves…

[Lobriga-se na penumbra a entre-abertura das pernas por entre lençóis. Adiado é o tacto. Na (im) permanência]

Ou sorvo [te] em pequenos goles o travo agridoce dos [teus] lábios. Como marés. Tempestuosas. E é nessa espuma dos dias – estilhaçada de encontro a muralhas imaginárias –, que [te] encontro no adiado de um sábado à tarde. Quando a noite se põe e o dia é a resultante de uma estranha intercepção entre vários pontos de horas, e estas são apenas somatórios de momentos. Em que os corpos se tocam. E possuem.



terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

De Afonso Henriques aos Descobrimentos. (A importância do oculto na epopeia marítima portuguesa)


Segundo a Bíblia, a Arca foi feita para guardar as tábuas de pedra nas quais Deus escreveu os Dez Mandamentos, e acreditava-se que possuía poderes sobrenaturais. A Bíblia descreve-a como algo que “irradia” fogo e a luz produzida gerava tumores e graves queimaduras nos inimigos de Israel; transformava montanhas em planícies; detinha rios e devastava cidades. Parece ser o equivalente bíblico da actual bomba atómica.



Sabemos que foi em Portugal que os Templários guardaram os seus bens mais preciosos, especialmente os mapas que lhes serviram para irem à América do Sul, o que explica as viagens que fez a Tomar o grande almirante de Isabel de Castela,Crisóvão Colombo, antes de empreender sua aventura americana. Foi ai que teve acesso aos mais secretos documentos da Ordem Templária.
Seria interessante situarmos a descoberta da América como uma feliz operação já sonhada pelos Adeptos.
Louis Charpentier emitiu a hipótese de a Ordem do Templo explorar secretamente as minas de ouro e prata americanas. Os conquistadores que antecederam Colombo abarrotaram com estes metais preciosos o fundo dos seus navios, trazendo aos reis católicos uma imensa fortuna.
Colombo foi autorizado pelos reis de Espanha a usar "Dom", antes do seu nome, e foi promovido a grande almirante, título até então somente reservado aos príncipes de "sangue real". Também o título de vice-rei das terras que descobrisse lhe foi concedido. Depois de tantos séculos, ainda mal compreendemos as profundas causas que levaram os reis católicos a elevar a uma tão alta dignidade um marinheiro totalmente desconhecido. Parece que o grande almirante conquistou o seu título por intervenção de algum "protector desconhecido". Uma auréola de mistério rodeia ainda hoje a figura de Colombo, tornando-o numa personagem em quem muitos vêm um iniciado da não muito conhecida, Ordem dos Cristóforos.



“Uma nação não é apenas um produto da História. Um grupo de homens, unidos pela tradição comum, estabelecida, mantida e reforçada durante um longo passado de convivência, pela igualdança do falar, pela expressão dominante que entre eles tomam ideias e afectos, vive, ligado embora por esses laços morais, sobre um pedaço de solo. A configuração e a natureza do território, o ritmo consabido do clima, a vegetação que reveste as planuras e as serras, as culturas que, no decurso do ano, fazem mudar, segundo uma rotina consagrada, a fisionomia dos lugares, o modo como a população se junta ou se dispersa, se adensa ou rarefaz, as maneiras de viver, a animação dos caminhos e dos sítios de convívio constituem, para um país, larga parte da sua expressão nacional. A terra de um povo já não é um simples dado da natureza, mas uma porção de espaço afeiçoado pelas gerações, onde se imprimiram, no decurso do tempo, os cunhos das mais variadas influências. Uma combinação, original e fecunda, de dois elementos: território e civilizações.” Orlando Ribeiro, 1987

Industrialização de Portugal – primórdios

Com o reinado de D. José, é ministro do Reino Sebastião José de Carvalho e Mello, que viria a ser Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, durante a sua governação tenta dotar o país de capacidade industrial e de uma burguesia fortes, que desse novo ânimo à economia nacional; o país tenta acompanhar o advento da Revolução Industrial, e é com ele que se dão reformas profundas na economia e na educação e se assiste a um forte fomento da indústria. A vila de Tomar e o rio Nabão constituíam terrenos propícios para a instalação das - então - modernas fábricas hidráulicas.

Por essa altura existia em Tomar uma quantidade significativa de instalações fabris; uma dessas fábricas pertencia a Gabriel de La Croix , sendo a outra em Lisboa, mas em 1672 um grande incêndio destruiu a unidade industrial de Tomar, tendo as Fábricas de Caixas de La Croix , fixado-se exclusivamente em Lisboa; no mesmo período outro industrial, Noel Le Maitre , de origem francesa, viera estabelecer-se em Tomar afim de construir aqui uma fábrica de tecidos, e a 15 de Novembro de 1771 é enviado ao Ministro de Reino o parecer da Real Fábrica das Sedas sobre o requerimento para se instalar uma nova fábrica em Tomar.

Tomar foi uma das primeiras, se não mesmo a primeira cidade industrializada do país; desde há muito que se contam inúmeras manufacturas de cariz medieval, e é com a Ordem dos Templários, posteriormente Ordem de Cristo, que os descobrimentos adquirem grande importância. O próprio Infante D. Henrique vem para Tomar dirigir a Ordem de Cristo e preparar a senda dos descobrimentos portugueses; a igreja templária de Santa Maria dos Olivais foi a matriz de todas as igrejas do império colonial português.



De Afonso Henriques aos Templários

Afonso Henriques fez história porque tinha um Mito e um objectivo bem definidos, prometeu a São Bernardo de Claraval que se conquistasse Santarém aos mouros, mandaria construir um mosteiro para a Ordem de Cister em Portugal, o que efectivamente cumpriu.
Os Cistercienses fixaram-se em Alcobaça e tiveram um papel muito importante na história do nosso país, tanto a nível material como espiritual.
Os Frades de Cister não eram passivos e contemplativos; eram monges de acção que operaram uma enorme transformação nas mentalidades, ensinaram novas técnicas na agricultura, arquitectura, ciências,para além de transmitirem uma mística poderosa.
É essa mística inspirada por São Bernardo, que está directa ou indirectamente, por detrás do grandioso projecto marítimo luso.
São Bernardo, redigiu o regulamento da Ordem do Templo, e aumentou em Portugal o apoio aos Templários. Estes, como Ordem monástico – militar de cariz esotérico, lutaram ao lado de Afonso Henriques, deixando marcas impressionantes na história secreta de Portugal, que não teria sido o que foi, sem a presença Templária.
Como sabemos os Templários foram protegidos por D. Dinis, que, para evitar um conflito directo com o Papa, mudou o nome de Ordem do Templo, para Ordem de Cristo. Temporariamente viram-se obrigados a deixar Tomar e foram para Castro Marim de onde regressaram à casa-mãe ainda no século XIV. A partir daí começa a preparação científica e missionária dos descobrimentos.
A epopeia marítima Portuguesa teve um cariz diferente do dos outros povos europeus,porquanto os capitães portugueses eram gente de elite altamente preparada a nível científico e militar e com uma enorme força moral e espiritual.
Tomemos como termo de comparação os nossos vizinhos espanhóis, que ao mandarem o aventureiro Pizarro para a América, em lugar de almirantes bem preparados, originou o massacre dos Incas, a exemplo do que fez Cortez com os Aztecas no México.

Nota de fim de texto:

Paulo Alexandre Loução finaliza com este livro uma tetralogia que inclui O Espírito dos Descobrimentos Portugueses, Os Templários na Formação de Portugal e Portugal – Terra de Mistérios. Prosseguindo na sua demanda pela desocultação do profundo substrato esotérico latente na cultura portuguesa, divulga nesta obra uma série de ritos e símbolos ainda hoje vivos em tradições e festividades cíclicas – presenciadas pelo autor – de inestimável valor antropológico.
O texto, complementado com imagens, permite ao leitor viajar por esse mundo secreto de vivência mítica e espiritual.
Por outro lado, reconhecendo a necessidade de uma anamnésis (reminiscência) das raízes espirituais e do imaginário lusitano face ao efeito redutor da chamada globalização, Paulo Loução convidou uma série de investigadores consagrados a exporem as suas ideias nesta obra, sob a forma de entrevista, visando incentivar o debate e a reflexão sobre a cultura portuguesa no âmbito da reabilitação científica do esoterismo e da premência em revitalizar o Portugal Imaginal. Um livro que recomendo a quem se interessa por esta temática.



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

E.xperience II


Sorvo [te] no silêncio de uma noite, o rosto diáfano iluminado na semi-obscuridade coado nas pequenas ranhuras de umas réguas paralelas, olhos brilhantes e belos fixados no azul/maresia dos [meus] quando inventámos estrelas e o céu se cobriu das transparências de um quase inaudível “amo-te”. Soube nesse instante que a felicidade é uma existência palpável, como a quase impalpável flor – roubada – que [te] ofereci entre folhas de um livro de letras minúsculas.
Perdura o aroma de [ti]

Repositorium (Sobre o Islão)

Se aceitarmos que a competição entre a ordem liberal e a ordem “socialista” constituía o elemento nuclear da competição bipolar durante a Guerra-fria, também aceitamos que, em termos históricos, o modelo liberal triunfou. Por isso mesmo, grande parte da agenda internacional passou a ser dominada por questões como o alargamento e aprofundamento da União Europeia e da Aliança Atlântica, o reforço do papel das Nações Unidas na segurança internacional, e os processos de reforma política e económica no interior da Rússia e da República Popular da China. Por outras palavras, a questão central dos anos 90 prendia-se com a construção de uma ordem liberal global. Após os acontecimentos de 11 de Setembro, a agenda de alargamento da ordem liberal passou para segundo plano (embora isto não signifique que tenha deixado de ser relevante). Neste momento, a chamada “guerra global” (ou “conflito global”) domina a atenção de quase todos, desde os analistas das relações internacionais até aos governos das grandes potências, em particular as potências ocidentais.

A contestação à Ordem Liberal

Ainda que dentro do próprio Ocidente, algumas reacções são claramente observáveis, a verdadeira contestação ao modelo liberal proposto pelas sociedades capitalistas, parte dos países islâmicos, sobretudo do Irão controlado pelos Ayatollahs. Efectivamente, em termos ideológicos, os antecedentes da origem do actual conflito global podem ser identificados com a Revolução iraniana de 1979. O regime dos Ayatollahs foi o primeiro movimento fundamentalista islâmico com significado político. Após a revolução, a República Islâmica do Irão apoiou grande parte da sua actividade política numa dupla mensagem ideológica. Por um lado, defendia a necessidade de unir a comunidade islâmica, o que seria alcançado através de revoluções políticas; e, por outro lado, apelava à resistência ao imperialismo ocidental. Estas duas ideias ocupam igualmente um lugar central no discurso do movimento pan-islâmico do início do século XXI.
No discurso político do movimento radical islâmico, os ataques ao imperialismo ocidental, e à ordem internacional liberal, ocorrem em dois níveis distintos. Em primeiro lugar, os movimentos islâmicos atacam sistematicamente a política externa norte americana no Médio Oriente, nomeadamente o seu apoio a Israel, e a manutenção das sanções económicas e dos bombardeamentos aéreos ao Iraque. Parece-me, no entanto, que o segundo nível é politicamente o mais significativo. A este nível, os movimentos pan-islâmicos não atacam políticas, mas sim princípios e valores. Ou seja, observa-se um ataque aos princípios e valores da ordem política liberal e secular. Aqui, o confronto com o percurso da História aparece inevitavelmente.

A unidade da comunidade islâmica exige acima de tudo que se façam revoluções nos países islâmicos. A principal finalidade dos movimentos islâmicos radicais é precisamente conquistar o poder nos países muçulmanos, o que reforça a natureza pan-islâmica destes movimentos. Não deixa de ser revelador que as últimas revoluções políticas ocorridas em países islâmicos puseram movimentos radicais no poder. Em 1979, no Irão; e em 1996, no Afeganistão. O modo como os Taliban subiram ao poder no Afeganistão é um bom exemplo do funcionamento do pan-islamismo. A sua formação ideológica deu-se nas escolas corânicas do Paquistão, as “madrassas”. Em 1994, os estudantes de teologia formaram um movimento político, iniciando ao mesmo tempo a sua preparação militar, aperfeiçoada com a participação na guerra entre as forças islâmicas e o exército indiano na Caxemira. No mesmo ano, com a ajuda do Paquistão, iniciaram a conquista do poder no Afeganistão. A revolução culminou com a captura de Cabul em 1996, estabelecendo-se então um “Emirado Islâmico”, liderado pelo Mullah Mohammed Omar. Desde então, grande parte da força militar do Emirado Islâmico do Afeganistão resulta da presença de movimentos militares islâmicos de carácter internacionalista, compostos por árabes, paquistaneses, chechenos, uzbeques e mesmo europeus, e liderados pela Al-Qaeda.
Reduzir esta organização a uma mera associação de malfeitores e de terroristas pode revelar-se um erro grave para a civilização Ocidental. Osama bin Laden ultrapassa o rótulo de bandido com que o Ocidente liberal, chauvinista, imperialista, e porque não dizê-lo, terrorista trata as diferenças culturais.
Serão os árabes de uma forma geral os terroristas que apregoamos, ou ao invés, são o último reduto do combate a um mundo ocidental que cada vez mais se assume como o criador de pobres, miséria, fome e desigualdades?
Serão os islâmicos povos incultos, aberrantes, terroristas, apenas porque a sua cultura é diversa da nossa? – Não creio!

A cultura islâmica e o Império Muçulmano no ano 1000

Oriunda de uma região desértica habitada principalmente por tribos nómadas que se deslocavam em grandes caravanas entre os poucos centros de comércio existentes, floresce aquilo que viremos a denominar como a cultura islâmica. Neste contexto surge a figura de Maomé, o criador da religião islâmica (ou religião muçulmana) no início do século VII da era cristã.
Maomé não foi apenas líder religioso, mas também grande chefe guerreiro que submeteu ao seu governo toda a Península Arábica. Os seus sucessores empreenderam muitas guerras de conquista, ampliando a área de influência do islamismo e estabelecendo um grande império que, um século depois da morte de Maomé, atingia, a leste, a região do rio Indo e, a oeste, o norte da África e a Península Ibérica.
Os árabes não foram apenas guerreiros. Ao contrário, tiveram um papel importantíssimo no campo da cultura e da ciência, especialmente na Matemática. A grande extensão do Império Islâmico permitiu aos estudiosos árabes entrar em contacto com as mais variadas culturas.
Os seus sábios estudaram e traduziram as obras dos filósofos e matemáticos gregos, preservadas na célebre biblioteca de Alexandria, no Egipto. Não fossem as traduções para o árabe, essas obras teriam sido perdidas para sempre com a destruição daquela biblioteca, no final do século VII.
No extremo oriental do seu império, os árabes entraram em contacto com a cultura hindu e interessaram-se especialmente pela astronomia, a aritmética e a álgebra, muito desenvolvidas naquela civilização. Estudaram sobretudo o sistema numérico hindu, reconhecendo sua simplicidade e praticidade. Esses conhecimentos já eram dominados pelos hindus há vários séculos, mas não se haviam difundido entre os povos do ocidente.
Os árabes, que haviam penetrado na Europa e dominavam a Península Ibérica, foram os introdutores da ciência oriental na Europa medieval. Entre os séculos VIII e XIII, por sua iniciativa, foram criadas muitas universidades e bibliotecas, desde Bagdad, no Oriente Médio, até Granada e Córdoba, na actual Espanha. Nesses centros, as obras dos hindus foram traduzidas para o árabe e difundidas entre os estudiosos.
Entretanto, na Europa Medieval houve grande resistência à introdução do saber oriental, sobretudo ao sistema de numeração hindu e à maneira de realizar as operações nesse sistema. Estabeleceu-se um conflito entre os partidários do velho ábaco, herança dos romanos, e os que reconheciam as vantagens do método hindu. Esse confronto ficou conhecido como a contenda entre "abacistas" e "algoristas", e terminou com a vitória final destes últimos, já em pleno Renascimento.

Curiosidade: "al-Khowarizmi" virou "algarismo"

É curiosa a origem da palavra algarismo. Durante o reinado do califa al-Mamun, no século IX, viveu um matemático e astrónomo árabe, que se tornou famoso. Chamava-se Mohammed ibm-Musa al-Khowarizmi que escreveu vários livros, um deles, intitulado "Sobre a arte hindu de calcular", onde explicava minuciosamente o sistema de numeração hindu. Na Europa, este livro foi traduzido para o latim e passou a ser muito consultado por aqueles que queriam aprender a nova numeração. Apesar de al-Khowarizmi, honestamente, explicar que a origem daquelas ideias era hindu, a nova numeração tornou-se conhecida como a de al-Khowarizmi. Com o tempo, o nome do matemático árabe foi modificado para algorismi que, na língua portuguesa, acabou como algarismo.

Numa próxima oportunidade abordarei os elementos culturais árabes, que se estendem da pintura, à escultura, à poesia, todas elas possuidoras de profunda harmonia.
Em lugar de os condenarmos sumariamente, tentemos conhecê-los; de certeza que para muitos será uma agradável surpresa, e de certeza que um outro olhar será lançado sobre uma cultura multimilenar e berço da actual civilização Ocidental.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Lugar nenhum


Assim! Como se embrulhado nos pequenos pingentes em forma de lágrima que por força da gravidade se estilhaçam no solo e em lugar nenhum, e esse lugar algum é a concha hermética onde o recolher se torna imperioso.
[Ou o pequeníssimo riacho que se forma a partir de umas quantas gotículas transparentes, cacos precariamente reunidos a desaparecerem solo adentro, violando-o]

Sobra a névoa baixa e opacidada de lugar nenhum, o vislumbre ténue e fugaz da figura liquefeita – primorosamente trabalhada por mãos de artesão apaixonado -, amanhã corpo de promessas, ontem apenas sonho e desejo adiado.
Perduram [se/me] as memórias nas duas pequenas lágrimas cristalinas dependuradas nos [teus] olhos, e na boca desenhada em contraluz – imagem capturada em lugar nenhum -