quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Repositorium (Estruturalismo)

Acusado de anti-historicismo, de demolir as estruturas inconscientes e os epistemas, conotado com a destruição da arqueologia do saber e de reduzir o homem a meros despojos daquilo que entendemos como Ser, o estruturalismo veio obviamente para ficar. Entendê-lo à luz da complexidade dos muitos elementos que se interrelacionam de maneira indissolúvel, e que definem uma estrutura como um conjunto de peças cujas partes actuam como funções uma das outras e que se auto-regulam – a alteração de um membro provoca, necessariamente alterações no todo –, é compreender a sua essência.
Proveniente do latim structura (construção), e usado na linguagem filosófica enquanto fórmula para relacionar significados de forma, configuração, complexidade e conexão, podemos defini-lo como um conjunto de leis que estabelecem relações entre si, explicando comportamentos e/ou formas típicas de nos desenvolvermos.
A estrutura não corresponde, contudo, a uma mera formalidade mais ou menos académica; ela é o modelo de inteligibilidade presente numa determinada configuração do real, e única possibilidade de organização lógica. As relações entre os elementos, procuradas pelo olhar estrutural, não são prioritariamente de identidade ou semelhança, como em uma doutrina de carácter holístico; ao invés, o estruturalismo persegue as diferenças, responsáveis pela criação das significações. A semelhança é compreendida por este pensamento como um caso particular da diferença que a funda. Assim, a finalidade do método estrutural é reconstruir logicamente um determinado objecto, a partir das considerações de suas diferenças, de modo a tornar manifestas as suas regras intrínsecas de funcionamento.
Lèvi-Strauss na Etnologia, Saussure na Linguística, Vigotski na Psicologia, Althusser no Marxismo, Foucault na História da Psiquiatria, na Sociologia e na Sexualidade e Lacan, na Psicanálise, tentam encontrar aplicações práticas para este quase movimento – na realidade nunca o foi assumidamente –, apresentando o estruturalismo como uma alternativa de solucionar os urgentes problemas filosóficos relativos ao sujeito humano e ao desenvolvimento da história humana. Roland Barthes, no campo da crítica literária e das múltiplas ramificações destas disciplinas, e Jacques Derrida na linguagem, crítica literária e retórica, foram dois dos grandes vultos deste “quase movimento”.
Pretendendo inverter a direcção do saber sobre o homem, decidem destronar o sujeito (o eu, a consciência ou o espírito) e suas celebradas capacidades de liberdade, autodeterminação, autotranscendência e criatividade em favor de estruturas profundas e inconscientes, omnipresentes e omnideterminantes, em favor de uma abordagem científica que pretende descobrir a estrutura, penetrar na essência e determinar, através de uma rejeição aos postulados positivistas e evolucionistas, a razão única e incontornável da estrutura.
O estruturalismo, que começou originalmente com Saussure, com um método útil de melhor decifrar a linguística, depressa alastrou a outras áreas do entendimento humano
Michel Dufrenne, feroz anti-estruturalista, define o movimento como “concepções disparatadas bem expressas na ontologia de Heidegger, no estruturalismo de Lèvi-Strauss, na psicanálise de Lacan ou no marxismo de Althusser”, acrescentando ainda “haver uma temática comum a todos eles e ao estruturalismo: a abolição do sentido vivido e a dissolução do homem”.
Com Piaget, podemos dizer que as estruturas epistémicas de Foucault não se distinguem dos paradigmas de que fala Thomas Kuhn e as críticas que podem ser feitas a Kuhn também podem ser repetidas para Foucault. Piaget escreve; “As epistemas sucessivas não podem ser deduzidas uma das outras formalmente nem dialecticamente, e não procedem umas das outras por filiação, nem genética nem histórica. De outra forma, a última palavra de uma “arqueologia” da razão é de que a razão se transforma sem razão e que as suas estruturas aparecem e desaparecem por mutações fortuitas ou emergências momentâneas, do mesmo modo que raciocinavam os biólogos antes do estruturalismo cibernético contemporâneo”. Na opinião de Piaget, Foucault é irracionalista.
Devemos compreender o pós-estruturalismo tanto como uma reacção ao pensamento hegeliano? Essa reação ou fuga envolve, essencialmente, a celebração do “jogo da diferença” contra o “trabalho da dialéctica”.
O livro de Deleuze, “Nietzsche e a filosofia”, representa um dos momentos inaugurais do pós-estruturalismo, fornecendo uma interpretação de Nietzsche que enfatiza o jogo da diferença e que utiliza o conceito de “diferença” como o elemento central de um vigoroso ataque à dialéctica hegeliana e do estabelecimento de uma “filosofia da diferença”.

Fica uma sugestão de leitura “O estruturalismo de Lèvi-Strauss”