segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Repositorium (Henri Cartier-Bresson)

Após o desparecimento inexplicável do meu anterior blog, decidi fazer uma espécie de repositorium de alguns temas que me parecem de alguma importância.
Assim, irei intercalar com os novos textos, momentos de arquivo.
Como já foram comentados, espero que não se importem que estes não estejam abertos a comentários
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Henri Cartier-Bresson

Da experiência e da ansiedade de perder a direcção correcta nesta interinidade de escuridão e luz, nasce o inquérito acerca do significado da vida. Mas nasce porque a vida é experimentada como a participação humana num movimento cuja direcção pode ser encontrada ou perdida.

A existência não é um facto. Se alguma coisa é a existência, é o não-facto de um movimento perturbante da realidade interina, da ignorância e do conhecimento, do tempo e da intemporalidade, da imperfeição e perfeição, da esperança e do cumprimento, da vida e da morte.
Henri Cartier-Bresson tenta, com a sua máquina fotográfica, responder a todas estas questões, capturando não apenas um momento, mas o momento.
Nascido em França em 1908, estudou pintura e filosofia, vindo depois a iniciar-se na carreira de fotógrafo em 1931 fazendo igualmente, alguns filmes documentais. Feito prisioneiro pelas tropas alemãs em 1940, conseguiu evadir-se para se juntar à resistência francesa.

Começa então o período mais rico da história deste genial fotógrafo. A necessidade explícita e implicitamente assumida de retratar a realidade a partir de uma simples câmara fotográfica impõe a Bresson uma precisão e uma integridade quase maníacas, sobretudo se atentarmos nas formas mesmo quando tudo parece perder substância; o facto imaginado da existência não pode permanecer sem significado, mas deve tornar-se a rampa de lançamento para o ego do intelectual.
Se a existência do homem não fosse um movimento mas um facto, não só não teria qualquer significado mas nem sequer se colocaria a questão do significado. A conexão entre o movimento e investigação torna-se mais compreensível se considerarmos a sua deformação por alguns pensadores existencialistas.
Se a busca for proibida de se mover na realidade interina, e se, por consequência, não puder ser dirigida ao fundamento divino do ser, deve ser dirigida para um significado imaginado ou esta destruição imaginativa da razão e da realidade não é uma idiossincrasia e tem um carácter representativo na história?
O homem que se experimenta a si próprio e se questiona, aparece como uma res cogitans cujo esse deve ser inferido do seu cogitare, – e o Deus por cuja resposta nós esperamos e aguardamos é convertido no objecto de uma prova ontológica da sua existência. Ademais, o movimento da busca, o erotismo da existência na realidade interina do divino e do humano, tornou-se um cogitare demonstrativo dos seus objectos; a luminosidade da vida da razão foi modificada na claridade do raisonnement, e porque a realidade existe a fotografia existe, resistindo à circulação célere das imagens, aos directos das televisões e à internet. Criando um espaço próprio, renovando-se para acompanhar as mudanças. Afirmando-se como um estilo para documentar o mundo; e para quem profetizou o fim da era de ouro do fotojornalismo, surge a Magnum como uma resposta, uma afirmação de que reportagem fotográfica continua e continuará a ser uma referência documental insubstituível. Os projectos dos seus fotógrafos resultam em imagens que espelham o mundo de hoje, fragmentado e inquieto. Apesar de ser vista como uma agência conservadora, a Magnum tenta esbater as fronteiras entre a arte e o documento, tira partido das novas tecnologias e quer estar, sempre, onde tudo acontece (onde está a notícia) ou onde nada acontece (o quotidiano).
Henri Cartier-Bresson e David (Chim) Seymour conheceram-se por acaso numa viagem de autocarro perto de Montparnasse, em Paris; sentados frente-a-frente. Bresson segurava a sua Leica e foi essa câmara que motivou o início de uma conversa que, mais tarde, levaria à criação da Magnum.
Em Abril de 1947, Robert Capa, David Seymour, Henri Cartier-Bresson e George Rodger encontraram-se no restaurante do New York's Museum of Modern Art. Não era apenas um jantar de amigos. Os quatro fotógrafos estavam decididos a formar um consórcio que protegesse os direitos de autor sobre os negativos e lhes desse o controlo editorial do uso das suas fotografias. Contactaram mais alguns fotógrafos e em Maio criaram a "Magnum Photos, Inc". Cinquenta e quatro anos depois, a Magnum é uma instituição com escritórios espalhados por todo o mundo. Tem hoje 60 membros e milhões de imagens em arquivo, a preto e branco e a cores, datadas desde os anos 30.

“Com a Magnum”, diria mais tarde Henri Cartier-Bresson, “nasceu a necessidade de se contar uma história”. A agência foi fundada no rescaldo da Segunda Grande Guerra e os quatro fundadores, mais do que fotografar, tinham sido, eles próprios, protagonistas e testemunhas da História. Imagens do Dia D do desembarque na Normandia, da resistência em França, dos bombardeamentos de Londres, da libertação de Paris, dos campos de concentração alemães, ganharam uma nova dimensão nunca imaginada. Mais do que ler, era possível ver o curso da história com os seus protagonistas e actores secundários – o povo – com os seus rostos de sofrimento, ansiedade, alegria, medo, de vitória e de derrota. Henri Cartier-Bresson imortaliza-se com momentos como a célebre fotografia "Prisioneira de campo de guerra em Dassau" (1945, Alemanha), onde capta o instante exacto em que uma antiga prisioneira reconheceu a pessoa que a denunciara. No entanto a sua fotografia mais conhecida é "Domingo nas margens do Marne", tirada em 1938. Uma família em piquenique nas margens de um Marne tranquilo…